RECURSOS VISUAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA ANÁLISE CULTURAL - PARTE I


CULTURA: REPRESENTAÇÃO E CONSTRUÇÃO SOCIAL

1.1. A CONSTRUÇÃO DA CULTURA ESCOLAR
A educação é um processo inerente ao homem, pois caminha junto a ele desde as etapas inicias de sua formação psico-biológica. O processo educativo não se faz isolado do nível de cognição, do sentido de sociedade, do sentido de educação, e em especial do significado de cultura.
A escola torna-se, então, um local privilegiado que, num movimento dialético, propicia a construção e (dês)construção da educação e da cultura. A de se pensar o termo cultura não apenas como usos, costumes, e tradições de determinada etnia ou grupo, mas aquilo que o indivíduo é em si e com os outros.
Como instituição responsável pela formação do educando, a escola não pode estar alheia à diversidade cultural que interage no espaço educativo. Como também não pode estar alheia a fase de construção da aprendizagem e aos métodos usados para a efetivação da mesma.
Necessita-se pensar os recursos e métodos empregados para a realização do ensino, pois entendemos que estes não ficam apenas na técnica pela técnica, mas revelam o projeto educativo escolar, em especial nas series inicias onde os recursos visuais se destacam em meio aos recursos usados pelo professor. E nestas horas o educador precisa pensá-los e associá-los ao projeto de educando pensado por ele e pela instituição escolar. Agindo reflexivamente e dando ao aluno a oportunidade de pensar sua realidade.
Cabe analisarmos a relação entre cultura e educação e a influencia exercida pelas praticas culturais no cotidiano escolar e no exercício da docência, além de enfocar os resultados dessa cultura na formação do educando.



1.2. A CULTURA E O CONHECIMENTO

A Cultura é uma área de estudo das mais recentes no campo social, na história e epistemologia humana. Alguns autores procuraram conceituá-la, entre eles está Edward Taylor, antropólogo norte americano, que assim a concebe:

“Cultura, tomada em seu amplo sentido etnográfico, é todo complexo que inclui, conhecimento, crenças, arte, moral, leis, costumes, ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade:” ( Gondim Apud, 1998, p.27 )

Ampliando o conceito de cultura, LARAIA analisa as contribuições de Kroeb, que descreve a cultura como:

“Um processo acumulativo, resultante de toda experiência histórica das gerações anteriores. Este processo limita e estimula a ação criativa do indivíduo” (1988, p.50)

Partindo da visão dos autores citados procuramos compreender o significado de cultura e sua relação com a formação individual e coletiva do ser humano, entendendo-o enquanto sujeito que age conforme seus padrões culturais e que a cultura influência o seu comportamento e justifica suas ações.
A bagagem cultural do indivíduo, como afirma Taylor, é o construtor da interação dele, indivíduo com o meio e enquanto membro de sua sociedade, podendo esta mesma cultura condicionar sua visão de ser humano e de sociedade.
Reforçando a cultura como resultada da atividade humana, temos no campo de estudo das concepções pedagógicas a tendência sociocultural que vê a cultura como resultada da capacidade criadora da atividade humana. Nesta, o homem é visto como sujeito da sociedade, na cultura e na historia, e se faz na medida de sua conscientização, de estar no mundo e com os outros. O conhecimento nessa abordagem é visto como elemento de construção de uma visão critica da realidade.
Destarte, o conhecimento não deixa de refletir uma determinada cultura apreendida no ambiente escolar em particular, na sala de aula. Toma-se aqui a escola como local de produção cultural e social, onde as tradições culturas são vistas e revistas; buscando uma nova forma de serem difundidas, estreitando a relação entre educação e sociedade, cultura e conhecimentos privilegiados no currículo, trabalhados pelo professor.

1.3. A CULTURA COMO CAMPO DE PRODUÇÃO DE SIGNIFICADOS

Como eixo de discussão de cultura, entra aqui o campo dos Estudos Culturais, que a concebem como espaço de luta em torno da significação social. Assim descreve SILVA:
“A cultura é um campo de produção de significados no qual os diferentes grupos sociais, situados em posições diferenciadas de poder lutam pela imposição de seus significados a sociedade mais ampla ”( 2000,p.133-134 )

Em SILVA (2000), a cultura é então um espaço de definição da forma de ser do mundo e das pessoas, ou seja, a cultura é um jogo de poder. Por esta é determinado o conteúdo e contorno do conhecimento, o perfil dos grupos sociais e a identidade dos indivíduos que a representam e são representados.
Por conta disto, entende-se a cultura não só como espaço de interação social para a construção própria da identidade cultural, mas como um campo de relação de poder numa sociedade globalizante onde as trocas culturais são tão velozes que não há tempo para se pensar a cultura apreendida.
Um novo campo de estudo dentro das teorias pós-críticas, o pós-colonialismo, visa analisar a complexidade das relações de poder existente entre as nações que herdaram uma estrutura econômica, político e cultural no momento da dominação estrangeira. Como eixo na teorização do pós-colonialismo está o conceito de representação que, em SILVA (2000, p.127), se define como: “A representação é compreendida como aquelas formas de inscrição através das quais o outro é representado”.
Portanto, segundo SILVA (2000), essa representação se difere das concepções psicológicas, assume caráter materialista, centralizando o discurso, a linguagem, o significado. Para o autor, as representações se manifestam de diversas formas como: no texto literário, na musica, no filme, no outdoor, na publicidade, na televisão, etc.
A representação entra como elemento essencial na formação de identidade cultural e social, pois o discurso em torno dos estigmas característicos da cultura levam o indivíduo a tomar como sua e ter como estranho a si qualquer estigma fora de seus característicos . A cultura apreendida nesse aspecto torna-se um meio de cristalização da superioridade de uma cultura sobre outra, determinando padrões, estereótipos.
Há um universo de representações no ambiente escolar, que vão desde a assunção de hábitos e comportamento; fala, vocabulário; relação de gênero; modo de vestir; até a postura dos atores sociais que estão diretamente ligados ao funcionamento da instituição escolar, seja subjetivamente ou objetivamente.
Destarte, compreendemos a educação, como parte de um conceito mais amplo de cultura, buscando analisar os saberes curriculares e os métodos de ensino como parte de processo sócio-cultural, onde a sala de aula e seus recursos instrumentalizadores da prática pedagógica carregam uma conotação do que seja a proposta educacional e discurso social da instituição escolar.

1.4. A EDUCACAO E A CULTURA NA FORMACAO DO SER HUMANO FRENTE A PLURALIDADE CULTURAL.

É certo que a escola tem a responsabilidade de formar integralmente o educando. Frente a esse desafio de formação do indivíduo, a escola necessita compreender a coexistência de uma diversidade cultural que extrapola a cultura escolar fechada em suas quatro paredes. Na perspectiva, de formação humana DAYRELL afirma:
“O indivíduo não nasce homem, mas constitui-se e se produz como tal, dentro do projeto de humanidade do seu grupo social, num processo continuo de passagem da natureza para a cultura, ou seja, cada indivíduo, ao nascer, vai sendo construído e vai se construindo enquanto ser humano”.(19**,p.141)

Portanto, com o educando, o processo de formação não é diferente, pois seu ingresso na vida escolar, reflete uma cultura própria: a de que a escola é espaço de formação especial e de que o aluno tem de se adequar as suas praticas e convenções socais.
Percebe-se logo que a escola não é uma ilha, mas que numa visão sistêmica, ela constitui uma sociedade que possui uma existência previa e histórica, cujas estruturas não dependem unicamente de um sujeito, mas dos diversos atores que compõem esta teia social .
A partir da compreensão do significado e sentido da cultura e suas implicações na formação humana, focalizamos a discussão sobre a diversidade cultural que não pode ser entendida apenas como a manifestação de múltiplas culturas no espaço escolar, destacando o respeito a elas, ou seja, aos diferentes grupos e culturas que as constituem.
É necessário contemplar a escola não só como local do diálogo, mas também como espaço de aprendizagem e de ensino, e a este ensino deve-se ter a máxima atenção e cuidado. Pois nos conteúdos trabalhados transparecem uma cultura escolar, cultura esta tão presente nos livros didáticos, terminando por copiar um modelo de aluno, família, escola, sociedade, cultura, etc.
Cabe então ao professor, em especial ao da educação infantil, fase privilegiada de formação do educando, pensar o espaço quo do ensino-aprendizagem de seus alunos, pois nele e através dele se constrói a autonomia do educando.
O educador, como afirma RIOS (2001) necessita compreender no exercício de sua docência do seu “saber fazer bem”, apresentar uma dupla dimensão de sua competência: a técnica e a política. Destaca-se aqui em especial a dimensão política, por ser o ato de ensinar também uma ação política, entende-se aqui o termo política como um conjunto de ações frente a concepção de mundo, da realidade social, de homem e de sujeito .


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